Pensagens

Entre comentários sobre ler e escrever uma pessoa perguntou:
… gostaria de saber quantos livros você tem (em média)? Uma mera curiosidade.
Isto demanda uma explicação meio longa. Fui criado em um ambiente sempre cheio de livros. Minha mãe sempre foi uma leitora insaciável e acho que herdei isto dela. Quando casei (oito anos atrás) eu já tinha algo em torno de uns 1.500 livros e minha esposa tinha mais ou menos a mesma quantidade. Somos os dois “bookólotras” e temos um problema em comum: interesses muito diversificados.
Temos livros de psicologia, artes, cinema, literatura, jardinagem, música, enciclopédias, filosofia, misticismo, religiosos diversos, política, romances, sociologia, histórias em quadrinhos e livros de referência de campos tão variados quanto guias de sobrevivência na selva, como fazer lingüiça ou administrar uma propriedade de dois hectares, como construir um celeiro, manuais de anatomia e cirurgia, guias de conserto de motores e por aí afora. No total acho que fica algo em torno de uns 5.000 livros. Ponha em cima uma quebra de uns 10% para cima ou para baixo.
Só de pensar nisto fico desanimado. Lá por junho ou julho, quando formos nos mudar do apartamento em que estamos agora, imagine o que isto significa? Mudanças em levas… três pelo menos… cultura pesa.

Recebi algum tempo atrás um email de um visitante do Manual de Sobrevivência do Novo Escritor. Ele comentava um texto que escrevi sobre a possibilidade de se usar lembranças da infância para nos ajudar a produzir textos melhores. Reviver emoções fortes sempre é uma forma útil de se desenvolver a técnica.
Quando esteva respondendo ao email, comentando sobre minhas memórias, acabei relembrando algo que me é muito caro. Não tenho a menor dúvida de que minha mãe (Dulce) foi a pessoa mais influente na minha vida quanto ao desenvolvimento de uma apreciação pela leitura, pelos livros, por filmes, pelo prazer de ler e, mais tarde, pela necessidade de escrever.
É importante este tipo de conclusão. Ajuda a colocar nossa vida em perspectiva. Ajuda a perceber a quem devemos agradecer pelo que somos. Escrevendo este post, vieram à memória várias cenas da minha infância. Eu deveria ter em torno de 8 a 10 anos. Uma das muitas e muitas manhãs de férias escolares quando, enquanto eu tomava café da manhã, minha mãe lia os livros de Monteiro Lobato em voz alta.
Ali, entre uma xícara de café com leite e um pão francês com manteiga e mel, minha mãe estava construindo as bases da minha personalidade, do meu caráter, da minha cultura e do meu amor pelos livros.
Thanks, mom…