Vc provavelmente já ouviu falar em um esporte chamado Futebol de Salão. A não ser pelo fato de ter dois gols, um em cada extremo da quadra e de ganhar a partida quem faz mais gols chutando um pequeno torpedo de couro através das traves, praticamente em nada mais se assemelha ao futebol de campo, que todos estão acostumados a assistir.
A propósito, não gosto de futebol. Aquela verdadeira “crocodilagem” que os jogadores, cartolas e jornalistas fazem, por dinheiro, me incomoda e não consigo respeitar nenhum dos envolvidos na coisa.
Mas no Futsal a coisa é diferente. Para começar, sou goleiro. E que fique o registro, adoro jogar no gol. Sempre joguei. E não é a mais fácil das posições. Para começar, pense que a bola que a gente usa é menor do que a de futebol, e muito… MUITO mais dura. E quando vc faz uma ponte, ou seja, pula para pegar uma bola “disparada” pelo outro time, a gente não cai na grama, mas na quadra que pode ser de madeira (melhor) ou cimento (ui!).
Outro detalhe, todo mundo que joga fustal, quando mete o pé em uma bola, bicuda ou não, a 10 ou a menos de um 1 do seu rosto, estômago (e adjacências) relativamente à destruidora trajetória da bola, está atrás dela.
No caso dos goleiros, estamos na frente dela. É como correr atrás da bala disparada de uma arma, e que o atirador errou quando atirou em vc.
E daí vc pula na trajetória da bala.
E então vc tenta agarrar a bola.
Distensões, hematomas e um pouco de sangue, são normais. Esperados até. Mas… e sempre tem um mas… do primeiro apito do juiz, até o último, quando ele aponta para o centro da quadra encerrando a partida, eu juro, vc não lembra de mais nada. Não pensa em mais nada. Nada mais importa. Credores, profissão, tarefas… nada. A coisa é tão intensa e violenta que, ao ouvir o apito, inevitavelmente vc pensa: mas pô, já?
Faço parte de um time que estava participando de uma competição entre os vários departamentos do Unicenp, aqui em Curitiba. O time nunca treinou junto e eu não jogava no gol (ou em qualquer outra posição) há mais de 14 anos. As regras mudaram, as formas de jogar mudaram e a minha forma física (especialmente ela) mudou. No caso da última, para pior. Bem pior.
Quero deixar bem claro que os membros do meu time são incríveis. Além de bons amigos, a maioria absoluta deles joga bem demais. Tem até alguns que poderiam fazer bonito em qualquer campeonato. Mas nunca jogaram juntos. Falta entrosamento, falta bastante forma física e, depois deste final de semana, um goleiro melhor.
No primeiro jogo, há 3 semanas, não pude comparecer por motivos de trabalho. Não sei quem jogou no gol, mas perdemos de 8 a zero. No segundo, semana passada, terminamos o primeiro tempo ganhando de 3 a um. Terminamos perdendo de quatro a três. Mas tudo bem. A idéia é suar um pouco. Dar umas risadas. Ficar com os amigos. Mesmo assim, na noite de sábado passado, contei 13 pontos de dor pelo corpo todo, especialmente nas coxas. Fiquei a semana inteira mancando. Claro, não deveria ter jogado ontem. Eu não estava em condições. Mas o time não tem outro goleiro. Além disso, não agüentei. Tive que ir.
Foi um dos maiores erros que cometi na vida.
Apesar de na semana passada termos dois dos melhores jogadores expulsos, começamos bem. Mas só começamos. Contando com somente um jogador no banco, as substituições “por falta de fôlego” ficaram reduzidas e o time foi cansando. Logo, os jogadores do outro time chegavam ao nosso gol com mais freqüência. Logo, fizeram mais gols. Muito mais gols. Doze (12) a mais, para ser preciso. E quantos gols nós fizemos? Nenhum. Zero. Zip. Nilcht. Nada.
E para piorar, logo depois do placar exibir a marca de 9 a zero, distendi a musculatura da coxa esquerda e tive que sair carregado da quadra. Literalmente. Parecia que tudo estava rasgando lá dentro. Foi a pior dor muscular que tive na vida. Pelo menos posso dizer que só tomamos 9 gols enquanto eu estava no gol. Os outros, apesar do esforço, quem tomou foi outro jogador.
Resultado: não conseguia dirigir de volta para casa. Quando cheguei, longo banho quente, bolsa de água quente, emplastros, pomadas e faixas. Estou parecendo uma múmia com cheiro de cânfora.
E sabe o melhor de tudo? Na semana que vem, se tivesse jogo (claro que não vai ter, pois fomos eliminados), se as dores permitissem eu ia de novo. Presumindo, claro, que depois da performance de sábado o pessoal do time me convide.
Quando não estou gemendo de dor, tentando me levantar do chão como um besouro de barriga para cima e sem fôlego, até que faço minhas defesas. Ontem mesmo a Nancy disse que fiz uma defesa tão boa que até o pessoal do outro time aplaudiu. Não lembro. Só pensava em tentar me levantar e suportar a dor na coxa esquerda, a dor no cotovelo direito, a dor… por tudo.
Sei que parece coisa de doido. O corpo está quebrado, mas a cabeça e o espírito estão leves.
Apesar daquele baixinho do outro time. Peste! Era impressionante como ele tinha fôlego. Cá entre nós, eu até tentei “passar o sarrafo nele”, mas não consegui. Acho que foi ele quem fez mais gols. O cara corria e pulava pela quadra como um louco. Parecia o Gollum.