Ela morava em um edifício amarelo, decadente. Estava descalça, usava só uma saída de banho azul marinho e disse que se chamava Alice.
Não sobrou dinheiro para o presente do Augusto, meu amigo secreto daquele ano. Dei só uma desculpa, pois Alice ficou com tudo. Deixei, como ela pediu e segundo a tradição, em cima da mesinha de cabeceira. Alta, comparada ao colchão que ficava no chão.
Felipe e eu fomos levados lá pelo Olavo, descobridor e primeiro desbravador da Alice. Nosso guia naquela aventura ficou esperando lá em baixo. Ele já era um homem. Alice era a responsável.
Naquele instante ela cuidava do Felipe. Culpa do par ou ímpar. Ele ganhou. Foi antes. Subiu a estreita escadinha um menino. Entrou no apartamento um adolescente, deitou no colchão um rapaz e desceu as escadas um homem.
Felipe foi transformado em homem 20 minutos antes do que eu. Ele sorria, depois, atravessando a rua em direção à marquise do boteco onde Olavo e eu nos refugiáramos da garoa que caía. Felipe, seus pés mal tocando o chão, se bem me recordo, planou sobre o asfalto e a calçada em nossa direção.